O QUE É QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT)? Existem vários conceitos e modelos de QVT, cada um fundamenta-se ou apresenta um viés, conforme a perspectiva da especialidade ou profissão do teórico. Se engenheiro ou psicólogo ou administrador; do ponto de vista empresarial ou acadêmico; do ponto de vista do empregador ou trabalhador, e assim por diante. Na verdade, todos se completam e, talvez, se pretendêssemos uma definição ampla e, ainda, contemplar de maneira justa e necessária, todos os estudos e pesquisas já realizadas sobre o tema, teríamos que confeccionar um tratado bíblico, incluindo uma vastíssima lista de definições, conceitos e modelos de QVT que já foram formulados.
Portanto, o texto que segue cumprirá, apenas, o objetivo de familiarizar ou referenciar a busca de algum entendimento sobre o assunto. É um tema em constante e rápida evolução e que, ao se tornar, atualmente, prioritário nas decisões estratégicas das empresas, vem merecendo revisões e atualizações sucessivas em seus fundamentos teóricos e modelos de implantação.
DEFINIÇÃO E ALGUNS MODELOS DE QVT: “QVT é um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho” (Albuquerque e Limongi-França – 1998). O INDEPE considera que uma boa gestão de QVT, tem que conciliar e alinhar os objetivos principais da organização, como a qualidade de produtos e serviços, satisfação do cliente, criação de valor social e financeiro para si mesma e para a sociedade e, principalmente, sua sustentabilidade futura, com os objetivos profissionais e pessoais dos indivíduos que pertencem a esta organização. É o famoso alinhamento de valores entre organização e indivíduo.
Quem participa do mundo corporativo possui, geralmente, mais informação globalizada, metas pessoais, profissionais e existenciais mais ambiciosas, noção mais apurada de seus direitos, se constituindo, enfim, num segmento mais esclarecido e exigente. Se levarmos em conta a famosa pirâmide de necessidades de Maslow, transitam mais no topo do que na base. Querem dar sentido para o que fazem e, principalmente, sentido para o seu trabalho. Querem compartilhar decisões, mais autonomia e mais salubridade emocional no ambiente de trabalho. Querem ter reais possibilidades de crescimento e desenvolvimento contínuo, não só em nível profissional, mas, também, existencial e espiritual. Empresas que insistirem numa visão obsoleta de que só salário e alguns benefícios (base da pirâmide Maslowiana) motivam e garantem a melhor produtividade e a retenção do trabalhador em sua empresa, estão correndo um sério risco de perderem seus talentos e seu capital humano e intelectual e, por conseguinte, perderem sua competitividade. Sabe-se que as empresas devem construir, a partir de hoje, a sua competitividade de amanhã. Investir em seu capital humano, isto é, nas pessoas, tem sido uma das estratégias mais utilizadas para criar sustentabilidade para o futuro. O INDEPE entende que a gestão de programas de QVT está, cada vez mais, se consolidando como estratégia indispensável para qualquer proposta de Gestão de Pessoas de uma empresa. Desnecessário dizer, mas sempre bom lembrar que, para a maioria das empresas, nesta era do conhecimento, a Gestão das Pessoas que detém o conhecimento e o tal do capital intelectual, está se constituindo na espinha dorsal da Gestão Empresarial da maioria das empresas modernas.
Para nós, do INDEPE, um modelo de Gestão de QVT, deve se referenciar pelos seguintes balizamentos:
- Promoção da saúde global: tanto no âmbito da empresa, como na vida pessoal. A promoção da saúde BIOPSICOSSOCIAL do colaborador é a base de qualquer estratégia que vise promover qualidade de vida no trabalho. (Seriam ações como PQVT, programas de prevenção, saúde ocupacional, monitoramento individual e coletivo de indicadores de saúde, planos de saúde, etc.).
- Promoção da Saúde Psicossocial do colaborador: as organizações, principalmente as voltadas para prestação de serviços e as que dependem muito do capital intelectual e de gestão de conhecimento, precisam priorizar e garantir ambientes com salubridade psíquica e sem toxidades emocionais, através do desenvolvimento de competências emocionais e comportamentais.
- Sentido do trabalho: o trabalho tem que ter um sentido e um significado amplo na vida do colaborador e transcender o atendimento da simples sobrevivência, para preencher necessidades de natureza existencial, social e espiritual. Ajuda muito, para isso, se a empresa procura, como política estratégica, criar valores, de natureza não financeira, para seus colaboradores e para a sociedade.
- Desenvolvimento profissional contínuo: o colaborador precisa se perceber num crescente profissional, sempre adquirindo novas competências para viabilizar sua empregabilidade dentro da empresa.
- Reconhecimento: os colaboradores devem ser reconhecidos, em todos os aspectos, pelos resultados que entrega para sua empresa. Não só do ponto de vista salarial, mas também reconhecimento moral e outros tipos de valorização.
- Autonomia e participação nas decisões: o colaborador tem que influenciar as decisões que envolvem a concepção e mudanças nos processos de trabalho dos quais participa. Tem que se sentir sujeito e agente criador de valores no seu trabalho e ter autonomia e responsabilidade para tomar decisões, sempre que possível.
- Perspectivas futuras e de segurança: um colaborador jamais pode deixar de ter planos e sonhos para o seu futuro dentro da sua empresa. Tem que perceber, também, um mínimo de estabilidade e segurança no seu emprego.
- Justiça, ética e coerência: a empresa deve zelar por uma política justa, ética e coerente na Gestão de Pessoas (Bioética). Perceber-se injustiçado é uma das maiores fontes de insatisfação e desmotivação para um colaborador.
- Clima organizacional: Acompanhar o clima organizacional, através de pesquisas periódicas, para redirecionar e atualizar os programas de QVT é de fundamental importância.
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT), COM FOCO EM SAÚDE EMOCIONAL.
SEM SÁUDE EMOCIONAL, QUE É A CAPACIDADE DE GERENCIARMOS E MANTERMOS AS EMOÇÕES E SENTIMENTOS QUE NOS FAZEM SENTIR BEM, FICA DIFICIL CONCEBER UM AMBIENTE CORPORATIVO SAUDÁVEL E QUE POSSA PRODUZIR BEM ESTAR E QUALIDADE DE VIDA PARA TODOS QUE CONVIVEM E DIVIDEM O COTIDIANO ORGANIZACIONAL. |
SAÚDE EMOCIONAL é gênero de primeira necessidade para as pessoas que estão vivendo este momento tão tumultuado de mudanças, ajustes e adaptações que o mundo, em permanente transformação, vem impondo a nosso cotidiano, seja na vida profissional ou pessoal. Nestes tempos tão desestruturantes e desafiadores, não podemos nos dar ao luxo de perder nosso equilíbrio emocional. Sem ele tudo fica mais difícil. SAÚDE EMOCIONAL é uma garantia adicional, imprescindível, de que nossas decisões serão mais sensatas, acertadas e sábias. Não há decisão que não envolva racionalidade e emoção, razão e coração, funções do hemisfério esquerdo e direito do cérebro. Mesmo que não queiramos, ou não saibamos, sempre haverá um componente emocional em nossas decisões. Como profissionais, seja CEO, diretores, gerentes, supervisores e colaboradores de um modo em geral, sempre precisaremos ter contato com nossos conteúdos emocionais, saber identificá-los, estimar com qual intensidade nos afeta, como afeta o outro, enfim saber gerenciá-los, conciliando seu direito de existência com a devida adequação em vivenciá-los e expressá-las. As emoções e sentimentos são o verdadeiro tempero da vida. Assim como qualquer tempero, de menos, deixa a vida sem graça, com excesso de racionalidade nos torna mambembes e atrofiados ao que se refere a uma vida plena. Ou ainda, se abafá-los, pode-se perder o tônus emocional e produzir distimias ou depressão. Demais, faz a vida adquirir temperatura exagerada, com emoções a flor da pele, adrenalina saindo pelos poros, acelerando nosso ritmo de vida, nos estressando, estressando os outros e inviabilizando aquela cota mínima de serenidade, tão necessária para atravessar as águas turbulentas dos cotidianos urbanos ou corporativos a que somos submetidos. O que é SAÚDE EMOCIONAL? Provavelmente temos diversas definições e todas se completam. Uma definição pode ser essa: é a capacidade de termos acesso às nossas emoções, sabendo identificá-las e gerenciá-las de uma forma que componham e contribuam para nossas boas decisões e para a percepção de um bem estar geral e satisfatório de vida. Outra boa definição, bem mais simples, é aquela que diz que SAÚDE EMOCIONAL é cultivar os sentimentos e emoções que nos fazem sentir bem, sem que alguém se prejudique com isso. Haveria muitos outros comentários e observações que poderiam ser feitos a respeito de SAÚDE EMOCIONAL, pois este é um assunto do qual todo mundo entende um pouco. Mas, exatamente por todo mundo achar que entende um pouco é que, na maior parte das vezes, se cria aquela velha situação: CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU! Todo mundo pode achar que entende, mas pouca gente cuida dela como deveria. Mas enfim, nos tempos atuais, principalmente no meio corporativo, onde se persegue tanto um estado de bem estar organizacional, não se deveria pensar ou conceber QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) sem incluirmos ou se negligenciarmos a SAÚDE EMOCIONAL. Diríamos que, como os fatores de riscos físicos, ergonômicos, bioquímicos, etc. já estão bem controlados, é na insalubridade psicológica dos ambientes corporativos que encontramos o grande desafio para se conquistar um conceito mais abrangente de QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT). Neste sentido é que o INDEPE está convencido da necessidade de continuar aprimorando as ações e estratégias de gestão da QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO, com viés, claro e bem definido, nos aspectos emocionais que permeiam o cotidiano corporativo. Principalmente nestes tempos em que o grande capital das organizações é o CAPITAL INTELECTUAL que se aloja, única e exclusivamente, na mente das pessoas. De preferência, mentes saudáveis. Autor: Luis Cláudio Paiva de Souza
Psicólogo e Consultor Organizacional |